- Org.: José Murilo de Carvalho, Lúcia Bastos e Marcello Basile.
O livro registra, de forma inédita, 32 panfletos manuscritos e impressos do período pré-Independência do Brasil. Este resgate documental mostra a ambivalência e intrigas entre ideias lusitanas e brasileiras, isto é, da submissão colonial à Portugal monárquico ou dos sonhos de fundação de uma República sob a influência Iluminista, bem como manter um Reino Constitucional.
Neste curto período jogou-se um "tudo-ou-nada" para a Casa Bragança, lembrando que a Corte estava instalada no Brasil desde 1808 quando fugiu da invasão Napoleônica. Os panfletos no Brasil podem ser agrupados, grosseiramente, em três ou quatro correntes de disputas:
- Um grupo de apoiadores - aristocracia e nobreza lusitana, militares portugueses, de um modo geral - indicavam para um retorno imediato de D. João VI para Portugal, onde buscaria alianças para anular a Revolução Liberal e Constitucionalista, retornando ao passado Absolutista.
Se queres ainda Reinar, Olha beato João, Deves ir para Portugal, E assinar a Constituição.
- Outros, dentre eles parte significativa do Clero, senhores de engenho (sempre endividados!) e profissionais e funcionários públicos, inspirados pelos filósofos Iluministas e pela Independência dos EUA e de ex-colônias espanholas, pregava a Independência e a fundação de uma República.
Às armas Cidadãos. É tempo Às armas Nem por um momento mais, perder deveis Se à força da Razão os Reis não cedem Das Armas ao Poder cedam os Reis.
- E o grupo vitorioso, onde 'reinava' o Príncipe Regente Pedro, aristocratas brasileiros capitaneados por José Bonifácio, tropas militares brasileiras. Evitaram o embarque à força do Príncipe para Portugal, submeteram tropas lusitanas e revoltosos, mantendo o Brasil unificado e fundando um Império Constitucional, com um forte Poder Moderador.
Para ser de glória farto Inda que não fosse herdeiro, Seja já Pedro Primeiro Se algum dia há de ser Quarto.
Pois o Brasil e suas histórias, seu povo e nossa cultura, também dariam epopeias admiráveis! Mal comparando, estes documentos lembraram-me dos famosos Federalist Papers, que defenderam e fundaram juridicamente e filosoficamente, em 1787, a jovem nação norte-americana.
Saudações. Jul/2021.
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