É um romance, mas fora dos estereótipos habituais de atração, devoção ou realismo. Há um suspense constante e profundo na pequena aldeia húngara. As noites são úmidas, as chuvaradas 'gotejantes' e as gargantas sôfregas e secas. Os habitantes se reúnem e se observam como as aranhas em suas sensíveis teias - buscam um movimento, uma chegada, uma personagem, um objetivo...
O nihilismo da estrutura e do roteiro dessas criaturas se exaure aos poucos, mesmo com os discursos de Irimiás:
Não me entendam mal, não acuso ninguém pessoalmente. Não acuso a mãe, que talvez nunca mais tenha uma única noite de tranquilidade, porque jamais se perdoará pôr no dia derradeiro... ter acordado tarde demais. Não acuso o irmão sacrificado também – ao contrário de vocês, amigos!
E na dança escura de seu refúgio, embarcam no velho caminhão emprestado, calhambeque estropiado e sem capota. Saem em busca de um destino “em uma algazarra incontida, feliz”, tal como na Balsa da Medusa, ventos e frio, pálpebras fechadas e um zumbido selvagem, transpirando desesperos e suores envoltos em rebotalhos de vida...
Balsa da Medusa – 1818-1819, Théodore Géricault.
Leitura do suspense e da melancolia, como diz o título de um capítulo: uma perspectiva, vista de trás.
Saudações, Setembro 2023.
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