O romance de Victor Hugo teve favorável acolhimento desde a sua publicação em 1832. Ambientado na Paris dos anos 1470 no reinado de Luis XI, discorre sobre os ‘tempos modernos’ das cidades europeias, dos grandes reinados, das ordenações jurídicas e alianças interesseiras.
Mas lado a lado da nobreza florescente, a plebe vive seu mundo, suas querelas e desgraças: a órfã cigana Esmeralda gira na praça da Île de la Cité, às sombras da grande catedral de pedra erguida em homenagem, louvor e glória à Nossa Senhora, Notre-Dame. Para a ilhota do Siena convergem ruelas e pontes, vagabundos e gendarmes, profetas, jurisconsultos e prostitutas... trottoirs incessantes. Esmeralda é bela e lasciva, infantil e defensiva, rebelde e enfeitiçante.
Nas curvas ogivais da catedral, uma figura monstruosa e inumana se confunde com as gárgulas dos peitoris. O sineiro Quasímodo, disforme e corpulento, dramático e sonhador, letrado - seu tutor, o diácono da igreja - espia as danças da ciganinha, exangue de amor e admiração.
“E se fosse uma noite de Natal, enquanto o grande sino, que parecia estertorar, chamava os fiéis para a missa ardente da meia-noite, havia tal atmosfera difundida na sombria fachada que parecia que o portal-mor devorava a multidão e que a rosácea a espiava. E tudo isso vinha de Quasímodo. O Egito o teria tomado pelo deus desse templo; a Idade Média acreditava se ele seu demônio: ele era sua alma.”
O autor pinta assim um quadro filosófico e humano de dedicação do corcunda por sua amada, mas lancetado de morte pela lealdade, do discípulo com seu tutor ... que trípode humana de amor e obediência, do divino com diabólico!
E as lamacentas margens do grande rio irrompem em revolução, e os miseráveis avançam sem conceber tolerâncias à ordem, ao clero e ao jugo dos poderosos!
Esta mistura de política e reflexão, amor filial, grandeza humana e baixeza vil ornamentam o trono – entronizam – este clássico da literatura!
Saudações, Setembro de 2023.
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