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O Cemitério de Praga/I - Umberto Eco.

  • Foto do escritor: Paulo Frandoloso
    Paulo Frandoloso
  • 21 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Episódio I.


O Bem Amado, de Dias Gomes (1922-1999), em sua versão telenovela, deveria ser reproduzido constantemente, pois sua mensagem se mantém atual após décadas.


Para quem não lembra ou nunca viu, Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), Prefeito de Sucupira, está obcecado em inaugurar o cemitério municipal, sua única obra; mas há muito tempo não há mortes na cidade; então contrata o matador de aluguel Zeca Diabo (Lima Duarte) para arrumar-lhe um defunto. À parte da trama principal – que nos faz pensar em políticas públicas mal planejadas – lembro a obra pelo hábito de Paraguaçu citar Ruy Barbosa em seus discursos com intuito de demonstrar erudição e seriedade. Mas a cada citação equivocada, Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), seu secretário bajulador, sussurra-lhe que Ruy Barbosa nunca disse aquilo, ao que o Prefeito retruca: “Se não disse, deveria ter dito”.


Imediatamente me vem a imagem de um assessor dizendo ao Presidente: “Mr. Trump, Cloroquina não funciona.” E ele responde: “Mas deveria funcionar!”


Torcer para dar certo, desejar que seja verdade! Crenças e Paixões, por mais excitantes que sejam se compararmos às evidências científicas, podem nos conduzir por caminhos obscuros em busca de objetivos tão obscuros quanto.



Imagine o Czar Russo ou o Führer do Terceiro Reich retrucando aos seus bajuladores: “Os rabinos não se reuniram no Cemitério de Praga para redigir os Protocolos? Mas eles deveriam ter se reunido! Eles queriam ter se reunido! Eu quero que eles tenham se reunido! Eles querem conquistar o mundo!”


Então, retornemos a Umberto Eco. Documentos têm o poder de dar veracidade a uma história. Se há um documento, documentado está, e a chance de ser verdade aumenta a ponto de muitos não colocarem dúvidas. Imagine que falsifico um documento, faço uma fotocópia e peço ao tabelião para autenticá-la. E, se ele não se der ao trabalho de verificar a veracidade do original, terei uma autêntica cópia de algo falso. Tal cópia, cheia de carimbos, assinaturas e selos, será prontamente aceita em qualquer órgão público.


Aguarde cenas do Episódio II.


Paulo Frandoloso - Médico Pediatra; Jul/2020.





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