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Foto do escritorMauro Luiz Kaufmann

Escravidão - Laurentino Gomes.

Este é um livro que não permite recortes, é parcial apenas porque traz o tema incompleto, sendo, ainda, o primeiro volume (2019) de três, com lançamentos anuais previstos para 2020 e 2021. Inicia com leilão de negros em solo português, em 1444, e encerra com a caça dos quilombolas de Palmares e morte de Zumbi em 1700.


O desenrolar dos fatos e personagens cristaliza, com todos os riscos de que reflexos 'cegantes' por vezes nos impõe negaceios de negação - nulos, o que a história deixa lavrado em pedra, sangue e mortes-vidas. O escritor Laurentino Gomes já tem outras obras reconhecidas pela sua competência historiográfica e inserção de análises isentas, não persecutórias ou anacrônicas, como ele ressalta, sobre as profundas e contínuas repercussões do passado no nosso cotidiano.


O autor recupera a humanidade e suas arestas escravocratas, demonstrando que culturas ancestrais, brancas ou amarelas, negras e nativas das Américas, Ocidentais e Asiáticas já faziam do mercado humano uma riqueza e o fermento de guerras de conquista. E este foi o período que floresceram conquistas de terras e povos, abrindo mundos novos aos europeus, sedentos de poder. Impérios se forjaram e reinos foram dizimados.


Leia todo o livro para os detalhes e notas de parcerias de comércio, das frotas de navios negreiros, das empresas constituídas para este fim. Enfim, vendo hoje, de como uma riqueza circular trocava de mãos - escravos abriam espaços em florestas para produzir navios para as metrópoles, e charque para alimentar outros escravos, linho e cânhamo para velas e cordames de navios negreiros e, assim por diante. Lutas religiosas e 'cristãos novos' colonizando em nome de reis católicos... Um mundo novo e sem fim!


"Hoje sabe-se com relativa precisão, que 12.521.337 de seres humanos embarcaram para a travessia do Atlântico em cerca de 36 mil viagens de navios negreiros, entre 1500 e 1867. Desses, 10.702.657 chegaram vivos à América. Os mortos seriam 1.818.680. ... O Brasil, sozinho, recebeu 4,9 milhões de cativos, o equivalente a 47% do total desembarcado em todo o continente americano entre 1500 e 1850."

E eu, que confessei não se poder recortar palavras que pudessem mascarar a grandeza desta obra, caí na armadilha da citação acima. Mas ultrapasse essa barreira, leia você também todo o livro, sem perder nada. E a nós todos, que sabemos como Castro Alves descreveu estes martirizados, ficam estrofes do seu "Navio Negreiro" na memória:


IV Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!

JUN 2020. Saudações.

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