top of page
Foto do escritorMauro Luiz Kaufmann

Carcaça de Negro - Mário Maestri

O autor, Mário Maestri, tem extenso papel acadêmico na área de história, com estudos sobre escravidão no Brasil e no Rio Grande do Sul. Inúmeros livros e textos sob sua orientação tratam da brutalidade de seres humanos capturados, expatriados e submetidos à violência extrema até que suas vidas lhes sejam estranhas - pertencem a outros.


Nesta obra, ambientada em uma estância gaúcha, deslinda-se a ocupação portuguesa pastoril, nas lonjuras dos horizontes do pampa e na rudeza das lides industriosas das charqueadas. Historicamente, a produção de carne salgada e seca, o charque, tornou-se 'campo' para o mercado escravocrata negro no sul do Brasil. Claro, não únicos nem primeiras vítimas, já que indígenas guaranis, charruas, e outros grupos, tinham sido capturados em 'bandeiras' e 'guerras justas' em tempos anteriores ao deste romance.


"Na embarcação, três vultos negros ocupam-se dos remos. Margeando o arroio, cavaleiros acompanham o barco. A cachorrada, latindo desesperada, fuça por toda parte, salta das margens do arroio e volta à terra firme. João Brandão e os peões gritam, quase ao mesmo tempo. - Sai daí Manuel Congo! - Sai daí, negro di merda! Aparece, africano fujão!"

A natureza do submetido é a fuga. Dessa natureza a liberdade. Da liberdade a vida! Época de um passado, história para um aprendizado. Somos agentes ou objetos - escravos - de nossa história? Os negros apresilhados na África, com reinos nativos que se associaram ou submeteram-se ao seus algozes, tornaram-se quase sinônimos do que é "ser escravo", nos dias atuais.


Imagem: Arquivo pessoal.


Aos que venceram 'as matambas', ao espancamento e à sangria pura e simples, à dispersão das famílias, aos que superaram a fome e ao 'banzo', o partilhamento de nosso convívio como iguais - herdeiros dos nomes portugueses e também de suas terras, e sempre, herdeiros de sua história:


"O comprador era o safado do Joaquim Crioulo! O cativo que o finado pai alforriara para substituí-lo no Paraguai! Há quase 30 anos! Ele mesmo presenteara o negro, na assinatura da carta, com 50 mil réis... ao menos aquele dinheiro chegava de volta ao seu bolso! Nunca mais pensar no cativo. ... Agora aparecia de supetão com a guaiaca cheia, com carta de crédito, propondo comprar terra sua...".

Façamos da história nosso aprendizado.

JUN/2020. Saudações.

11 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page