Franz Bieberkopf é um berlinense, renascido após a prisão por assassinato. Tem percepção de seu 'quase crime'. Retoma uma vida 'quase honesta' para, por percursos tortos em uma sociedade 'quase reta', cair no crime, 'quase morrer', enlouquecer, e retomar uma 'quase vida'.
Este clássico de 1929, romance ficcional alemão, de Alfred Döblin, realmente me pareceu uma leitura 'quase fácil', 'quase motivadora': impregnada de simbolismos e migração das falas para os pensamentos dos personagens, para recortes do cotidiano de uma metrópole europeia que vive notícias do período histórico da depressão econômica, da fermentação política do pós guerra e da revolução russa.
"Fomos educados na Alemanha no espírito da legalidade. Mas, companheiros, não se pode misturar água e óleo, isto o operário tem de saber. Os burgueses e os socialistas e os comunistas gritam em coro e se alegram: todas as bênçãos vêm de cima. Do Estado, da lei, da ordem superior."
Enfim, lembrou-me a trilogia sobre a norte-américa de John dos Passos... E, vista do nosso tempo, impossível não ligar as vivências do autor - médico - com os nosocômios e 'doentes sociais' de Berlim, com a lama da qual floresceu o mal do nazismo.
Será que estão nestes personagens o atavismo do culto totalitário, da crença na luta e militarismo como ética de uma nacionalidade? Bem, a história a partir de 1930 não permite interpretação positiva.
Saudações. Jan/2021.
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