Obra autobiográfica da ruandense, radicada na França, Scholastique: trajetória de sofrimento da etnia Tutsi nos limites de Ruanda, Burundi e Senegal. Não uma história dos séculos da colonização, mas vivências atuais dos anos 1950, 1960-70 e do genocídio provocado pelos Hutus em 1994.
É do clamor de gritarias e invasões, abusos, saques e corpos boiando em lagos que vem a voz e relatos desta autora, que impulsionada não se sabe por quais aspectos de resiliência humana, faz da superação uma vida, uma família e livros!
"E as mães tremiam de angústia ao trazer ao mundo um filho que se tornaria um inyenzi, que seria passível de humilhação, perseguição de ser impunemente assassinado. Estávamos cansados e, às vezes, nos deixávamos entregar ao desejo de morrer. Sim, estávamos prontos para aceitar a morte, mas não aquela que nos foi dada. Éramos inyenzis, bastava pisar em nós como se fazia com baratas, de uma vez. Mas eles tinham prazer na nossa agonia. Ela era prolongada por suplícios insuportáveis, por prazer. Havia prazer em cortar as vítimas vivas, estripar as mulheres, arrancar o feto."
É o relato de 1994. Acho que vimos também as imagens... É desse prazer de matar que vem o título - Baratas, inyenzis.
África, um continente a quem o senso comum nos faz lembrar unificado pela cor de seus povos, passado de colonialismo e escravidão, natureza e animais exuberantes, para vermos sob um mesmo prisma unificado nos canais de TV. Mas revisto pela ótica de quem lá vive e morre, mostra-se cheio de disputas étnicas, corrosão social e econômica, degradação ambiental e muitos países: todos africanos, todos irmãos??
Bem, estamos na pandemia de 2020. Como estamos atualmente, irmanados ou... como sempre?!
JUL 2020. Preciso dar créditos ao Guga Moraes, que indicou-me esta leitura nas escadarias do Colégio Anchieta. Pena pelas conversas tão breves! Saudações.
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