Uma criança de um ano de idade é um filhote do animal mais complexo da terra, um frágil filhote de gente. Qualquer outro animal com essa idade tem mais autonomia, resistência e independência que um ser humano.
Uma criança de um ano é um serzinho muito curioso, e sem nenhum juízo crítico em relação ao perigo. Nenhum!
É capaz de enfiar objetos pontudos e metálicos numa tomada, colocar as duas pequenas mãos na tampa de um forno quente, sair por qualquer porta aberta, inclusive a que dá acesso à sacada do apartamento que fica no quinto andar, e colocar na boca qualquer coisa que encontrar pelo chão. Se for algo de comer, é lucro. Se não for, ela come igual.
Com dois anos de idade, a criança fica um pouquinho mais esperta, mas ainda sem juízo, e o perigo de acidentes aumenta ainda mais, pois ela já se movimenta com mais rapidez e some da frente dos nossos olhos muito mais rápido do que, por exemplo, o Rubinho Barichello. Com três, é capaz de colocar uma capa de super-homem ou da mulher-maravilha e pular a janela para sair voando, exercendo o seu sagrado direito de confundir a imaginação com a realidade.
O problema disso tudo é que muitos pais não percebem e às vezes custam a compreender que as crianças pequenas são rápidas e curiosas na proporção inversa de sua noção de perigo.
Tem uma frase de um antigo professor, que não lembro se li ou ouvi, que dizia que “acidentes não são acidentais”. Ou seja, acidentes acontecem porque não prevenimos o suficiente, e para prevenir é preciso entender como eles ocorrem.
Acidentes infantis são causas importantes de morte e sequelas físicas. Os tipos de acidentes variam conforme a idade da criança. Em bebês, o mais comum são os sufocamentos no berço. Em escolares são os traumas por quedas ou brincadeiras perigosas. No caso das crianças de um ano que começam a caminhar, até a idade de três ou quatro anos, acontece de tudo: quedas, ingestão de produtos tóxicos, afogamentos, queimaduras... No fundo, a principal causa de todos eles é a falta de cuidado na segurança do ambiente, associada a um instante de descuido, além da não percepção dos pais de que seus lindos filhotes são rápidos, insaciáveis por novas descobertas, e completamente vulneráveis. Devemos estar atentos o tempo todo.
Medicamentos, produtos de limpeza e tudo o que for nocivo e cause algum risco deve ficar fora do alcance da criança. Brinquedos tem que ser adequados à idade, tomadas e escadas protegidas e alguém deve estar sempre perto de uma criança que começou a dar seus primeiros passos. É cansativo? Sim, é.
Mas aproveite bem essa fase porque, quando chegar a adolescência, piora.
Nardély Ilha - Médico Pediatra
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