Nos 'galopes' históricos do gaúcho do pampa, sul do Brasil, nas disputas pessoais e lides campeiras, na construção social do poder e do tradicionalismo, o autor Tau Golin destrincha e descobre uma ideologia.
Entrecruzando as fronteiras com a Argentina, o Uruguai - antiga Cisplatina e sul do Brasil, o livro apresenta em curtos capítulos a arte regional. Ou, 'a arte é o mundo', como compreendida por Sábato, em suas notas finais da obra. E em referências bibliográficas, em amostras de versos, causos e prosas, discorre acerca da apropriação 'desse expressar popular' por novos protagonistas, associados ao poder: desfiles farroupilhas, rodeios, festivais nativistas, grupos folclóricos e, 'bem apessoado' e já espraiado pelo Brasil, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, com seus CTGs.
A aristocracia desses novos agentes, o patrocínio pelo Estado e a força da imprensa e do latifúndio, tornaram institucional uma arte livre e universal. Como já resenhado neste blog - com Martín Fierro/José Hernández, Jayme Caetano Braun e suas pajadas, e outros escritores que ainda resistem, a liberdade inspiradora está carecendo de luzes, para novamente recuperar as esperanças, que vençam um triste enredo de "Negrinho de Pastoreio".
Da lenda um alento?!
Saudações. Fev/2021.
Eu sempre curti CTGs, e nas minhas andanças e conversas, vejo que muitos que os frequentam, o fazem pela convivência social e pela oportunidade de relembrar valores e vivências do meio rural. Lembranças de infância da geração acima dos 50. Como aconteceu com vários movimentos culturais, o tradicionalismo foi sendo apropriado e distorcido, num sentido mais ufanista que histórico. Na época que o Tau escreveu o livro, o movimento tradicionalista servia para cristalizar velhos conceitos, e até uma certa xenofobia. Hoje, já não tem a mesma força. Infelizmente, os saberes folclóricos e tradicionais também vêm sua principal vitrina.