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Foto do escritorNardély Ilha

A criança que não come!

Atualizado: 2 de jul. de 2020

Para quem se interessar, há um livro sobre o assunto com esse mesmo título, que surrupiei para este texto . É da editora Atheneu, escrito pelas nutricionistas Cristiane Pinho Macedo, Karine Bello e Liliane Palha, da Universidade carioca Gama Filho.

Muitas das queixas dos pais nos consultórios pediátricos são sobre a falta de apetite de seus filhos, geralmente crianças pré-escolares, de dois a cinco anos, idade ao mesmo tempo divertida e um tanto angustiante para os pais no que se refere à alimentação.

Quase cem por cento dessas crianças não têm doença orgânica que as faça recusar a alimentação. Muito pelo contrário, muitas delas entram no consultório bem animadas, exploram o ambiente em cinco segundos e, se houver algum brinquedo por perto, será revirado pelo avesso e explorado em todas suas possibilidades antes que o pediatra consiga dar boa tarde!


Enquanto o anjinho sobe por cima das cadeiras gozando de plena saúde e felicidade, a mãe (quase sempre é a mãe) olha angustiada para o pediatra, implorando um remedinho para “abrir” o apetite do seu filho, já que ele não come nada!


Os motivos dessa situação são vários, na sua maioria envolvendo a complexa teia psicológica-sócio-cultural que nos envolve. Quase nunca se encontra doença quando, eventualmente, fazemos alguma investigação. São situações que possuem algo em comum: estresse do ambiente familiar, desconhecimento das características fisiológicas e psicológicas das crianças nas suas diferentes idades, falta de orientação continuada de profissionais desde o nascimento da criança, expectativas exageradas e mitos. Não necessariamente tudo junto.


O estresse ambiental é mais ou menos variável de acordo com as características da família. Em alguns casos, a ansiedade é um grande catalisador de problemas de saúde, tanto aumentando sua frequência quanto sua possível gravidade. Há também vezes em que, mesmo o ambiente familiar sendo tranquilo, os fatores são de outra ordem, como uma expectativa exagerada sobre o quanto deve comer uma criança. Nossos parâmetros às vezes são ilusórios , baseados em falsas informações, no peso do filho do vizinho (que geralmente está acima do ideal), meios de comunicação nada educativos, tradições de família, etc.


O melhor relaxante para uma mãe aflita é a informação correta, numa linguagem acessível rodeada de empatia. E isso requer entender o seu particular universo familiar. Então, pra não ficar só nas divagações, quero contribuir com algumas singelas informações sobre o assunto.


Estimulantes do apetite são medicações de uso restrito e polêmico. Não há literatura que justifique seu uso corriqueiro. Se houver mesmo um problema que faça a criança não querer comer, ele deve ser investigado e tratado.


Evite distrair a criança com telas eletrônicas, faça da refeição um momento importante, único, prazeroso. Não tente enfiar a colherinha ou garfo goela abaixo de uma pobre criança que não está com fome naquele momento. Respeite a sua decisão de não abrir a boca. Certamente, ela não está doente, como você pode perceber pela bagunça que está a sua sala.

Também permita que ela sinta fome na hora das principais refeições, não lhe oferecendo nada nas duas horas anteriores. Evite salgadinhos, bolachas recheadas, doces e refrigerantes na rotina de seu filho. Varie os alimentos oferecidos (os saudáveis, claro), pois um cardápio monótono pode ser pior que, por exemplo,um casamento monótono.

Lembrar sempre que, mais importante do que a quantidade, é a qualidade do alimento oferecido, fator decisivo na oferta de nutrientes adequados.

Se seu filho não estiver doente, ele vai comer apenas o necessário. Leve-o ao pediatra regularmente para avaliar o seu crescimento. Se tudo estiver bem, relaxe. Quando chegar a pré-adolescência suas preocupações serão outras, do tipo: “Doutor, não sei mais o que fazer pra esse guri PARAR de comer!”

Cada coisa no seu tempo.


Nardély Ilha - Médico Pediatra

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1 Comment


iloite scheibel
iloite scheibel
Oct 26, 2020

Muito adequado Nardely!

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