Nesta obra, Hannah Arendt busca confrontar os antigos conceitos filosóficos do ser humano como um vivente contemplativo e divino, migrando para averiguações de imortalidade e eternidade (estas em contraposição), com a metafísica socrática e religiosa de Santo Agostinho - a 'vida ativa' como condição identitária.
Como então os humanos passam de uma identidade à outra? Como nos vemos? Pois com novas formas de convivência surgem novos conceitos, prática ou teoria? Praxis?! Está o ser humano moderno ordenado por uma bios politikos, ou capacitado entre o homo faber ou o homo laborans, este último como o pleno realizador de suas potencialidades frente ao anterior, faber, robotizado em modernas técnicas?!
Pois esta é uma obra para ser relida e re-relida, como parte do contraponto de autores contemporâneos da tradição europeia da sociologia e filosofia engajada - Touraine, Habermas, Godbot, entre outros. O que parece mais sólido, apresentado por Arendt neste contínuo evoluir de compreensões que nos explicam e justificam, é da condição 'social' do ser humano.
É nesta assertiva social da humanidade que Arendt se engajou para trazer conceitos de privado e público, nesta e em outras obras.
"A distinção entre as esferas pública e privada, encarada do ponto de vista da privatividade e não do corpo político, equivale à diferença entre o que deve ser exibido e o que deve ser ocultado. Somente a era moderna, em sua rebelião contra a sociedade, descobriu quão rica e variegada pode ser a esfera do oculto nas condições da intimidade;..."
A mim, humildemente, tem me inspirado essas e outras 'linhas guias' para atitudes em justificativas práticas profissionais e pessoais: se é eticamente aceitável determinada ação, então é ao mesmo tempo, e invariavelmente e atempadamente defensável que seja argumentada sua defesa publicamente.
Hannah Arendt, essa grande autora que pode ser lida de trás para frente - como o palíndromo perfeito de seu nome (nascida Joahnna!) - tem na sua sapiência filosófica os traços de sua vida.
Saudações. Nov/2020.
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