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A Casa dos Espíritos - Isabel Allende.

  • Foto do escritor: Paulo Frandoloso
    Paulo Frandoloso
  • 22 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Sua estreia na ficção em 1982 imediatamente colocou-a entre os grandes novelistas mundiais, então pode-se imaginar o quanto já foi escrito sobre a obra prima de Isabel Allende. Mas arrisco deixar meu palpite para a razão de sua grandeza. Com fluidez e isenção, Allende nos apresenta cerca de 70 anos de história chilena do Século XX e quatro gerações de mulheres.


É fácil deixar-se absorver no mundo de Lívia, Clara, Blanca e Alba, cujos nomes não são escolhidos ao acaso, mas refletem pureza e nitidez de seu estilo. Allende não se preocupa em criar figuras de linguagem, mas relatar, sem tomar partido, os fatos que envolvem as famílias del Valle e Trueba e a sociedade chilena.


As palavras de Alba no encerramento comprovam o distanciamento da escritora e sua capacidade de criar personagens com tanto realismo que eles parecem fugir de seu domínio – suas conexões com o mundo e o caráter de cada um passam a ser determinantes do próprio destino na intrincada rede social. Quando compreendemos isso, tornamo-nos condescendentes e empáticos até mesmo com o violento e temperamental Esteban Trueba. Cada um possui suas razões e aceitamos, então, inclusive, as daqueles que entendem que os fins justificam os meios.


Mas o fantástico une-se ao realismo, característica de tantos autores latino americanos, em La casa de los Espíritus. A clarividência e a mediunidade de Clara passam a ser uma metáfora (ou não) para condescendência e empatia que necessitamos para o convívio social. Clara prevê o futuro, pois revelado pelos espíritos que representam anseio, necessidade, medo, esperança, resiliência, indignação e tantas outras características que temperam e definem o ser de cada um e que determinam seu destino. A casa é a própria alma que abriga os sentimentos e os desejos humanos.


Há muito da obra para escolher como citação. Então deixei que minhas lágrimas escolhessem o que parece ser senso comum do povo chileno: Neruda já estava doente, mas o golpe militar em 1972 fez a decepção e a tristeza acelerarem o fim de sua vida física.


"O pequeno cortejo percorreu a pé, lentamente, o caminho para o cemitério, entre duas filas de soldados que formavam nas ruas um cordão de isolamento. As pessoas caminhavam em silêncio. Subitamente, alguém gritou, rouco, o nome do Poeta, e uma só voz, saída de todas as gargantas, respondeu: ‘Presente! Agora e sempre!’ (...) Pouco a pouco, o funeral do Poeta transformou-se no ato simbólico de enterrar a liberdade.”

Deveria encerrar por aqui, mas os acontecimentos em nosso próprio país me pedem mais uma citação: Alba é presa política e durante as sessões de tortura...


“(...) viu aparecer sua avó Clara, que tantas vezes havia invocado para ajudá-la a morrer, informando-a que a graça não estava em morrer, porque isso aconteceria de qualquer maneira, mas, sim, em sobreviver, o que era um milagre.”

Paulo Frandoloso, Nov/2020.


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