As adormecidas meninas, belas e nuas... sonhos de um náufrago em uma ilha paradisíaca, abandonado em não-sexta-feira! Pois o Japão é uma ilha, idílica e desenvolvida, cultura rica e campeã de idosos. São estes velhos, representados pelo senhor Eguchi, que naufragam em desejos, memórias e erotismos mais.
Caberia uma boa psicanálise para entender o tema do erotismo e sexualidade na velhice, e da sexualidade e submissão em toda e qualquer idade. Já li que o êxtase sexual se aproxima do abandono da morte... Poderia esta obra erótica espelhar a sociedade insular nipônica: a disciplina de um povo que vive muito, e confortavelmente, mas ainda assim com a maior taxa de morte auto-infligida do mundo?!
O autor, Yasunari Kawabata nasceu em 1899, honrado com Prêmio Nobel de Literatura em 1968, morreu pelas próprias mãos em 1972 aos 73 anos de idade.
Há livros e contos que são maiores que seus reflexos, pois que poder existe em uma escrita que representa em seus ideogramas 'a casa', a imagem do 'casal', da 'vida' pelos traços juntados em curva para uma choupana, uns braços entrelaçados e um coração?!
Assim, sugiro modestamente, lembrarmos de outras obras - A morte de Ivan Ilitch (Tolstói), O Suicídio (Durkheim), O Mundo da Escrita (Puchner), Musashi (Yoshikawa), etc, para compreender, ou não, a intersecção entre arte e escrita, amor e ódio, vida e morte [alguns títulos já apresentados neste blog].
Afinal, não será tolerando a violência e a banalização da morte que viveremos melhor! Banzai!
Saudações. Mar/2021.
Faltou o Borges
"O suicídio não me parece ruim; ao contrário, seria conveniente que mais gente se suicidasse; há excesso de população no mundo. "
Também Hemingway morreu pelas próprias mãos. Também Nobel. Deve existir um certo grau de abandono, de desprezo pelo próprio envelhecimento, para escrever excepcionalmente bem. Hemingway estava cirrótico, impotente e velho, combinação intolerável para sua vida. Desmond Tutu, Nobel da Paz, é favorável ao suicídio assistido, incluindo-se no grupo de morrer quando se quer.
Garcia Marques, senil, terminou de morrer aos 87 anos, sem ajuda própria. Acredito que se tivesse crítica sobre seu estado, Gabo teria dado fim a esta perda de tempo.